segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Rock Sintetizado de Bosco Delrey

Apadrinhado pelo DJ Diplo, o músico, nascido em Nova Jérsei, é um dos novos representantes do cenário alternativo de Nova Iorque e admira música brasileira.







Bosco Delrey é um dos artistas mais relevantes na cena eletrônica contemporânea. O músico, que nasceu em Nova Jérsei e passou a sua infância entre as grandes extensões dos milharais que cercavam sua casa, trouxe no DNA sua inclinação criativa.

Sua paixão por música brotou cedo, mas sua ascensão só lhe rendeu êxito quando Bosco despediu-se de casa para conhecer o que Nova Iorque tinha de melhor a lhe oferecer: um cenário multiétnico, apinhado de gente estranha, boas idéias e tribos diversas. Escolheu o Brooklyn como morada, e lá conheceu suas galerias, bandas garajeiras, poetas e artistas que, assim como ele, desenvolveram suas produções à parte das urgências do mercado. 

No distrito novaiorquino, ele se aproximou de gente do calibre de  77Klash, Mad Professor e  Jahdan Blakkamoore, figurões das cenas de dub e dancehall. Mas foi através do DJ e produtor Diplo ( conhecido entre os brasileiros pela sua massiva divulgação internacional do funk carioca) que o cara chamou a atenção da imprensa especializada.



Com uma mistura de rock sintetizado e um visual vintage, Bosco Delrey ganhou afeição do público e foi parar na Mad Decent, selo californiano responsável pela divulgação de artistas como Dillon Francis, Vato Ganzález e os brasileiros do Bonde do Rolê. Lá, aprimorou sua estética, redefiniu suas diretrizes e lançou “Evebody Wah”, um debut marcado pelo sincretismo de rockabilly e música eletrônica, produzido pelo Diplo.

De lá pra cá, Bosco Delrey vem ganhando espaço na cena musical alternativa, promovendo parcerias pontuais , ganhando notoriedade e disseminando sua música pelos mais inóspitos cantos do mundo.

Nesta entrevista, Bosco Delrey  fala sobre o início da carreira, suas influências, música brasileira e adianta novidades sobre seu próximo disco.


Fale um pouco sobre o início de sua carreira musical.

77Klash, um músico de dancehall, encontrou algumas canções minhas no myspace, e então nós começamos a trabalhar numa faixa juntos. Na mesma época, ele enviou uma demo da Azaelia Banks, e eu o encorajei a trabalhar com ela, também. Éramos uma pequena equipe. Daí, fiz uma faixa com a Banks para o Diplo, o que fez com que nós fôssemos apresentados a ele. Eu diria que esse foi o início de minha carreira musical.

Seu trabalho parece trazer experiências do rockabilly para a música eletrônica, uma decisão não usual que renova códigos tradicionais deste estilo, tal qual grupos como  The Cramps, Heavy Trash e Speedball Baby fizeram antes. Fale-me sobre suas influências musicais.

Não conheço o Speed Ball Baby, mas sempre adorei Jon Spencer ( idealizador do coletivo Heavy Trash e líder da banda Jon Spencer Blues Explosion) e The Cramps. Acho que o que a maioria das pessoas me associaria minha música ao rockabilly, mas eu prefiriria o rock ou o punk. Trata-se de várias coisas, mas é muito mais um sentimento do que um som, entende? Recentemente, assisti a uma banda de rockabilly que apresentou suas primeiras músicas com grandes sorrisos na cara e todo aquele visual dos anos 50, e me se senti meio desconfortável com aquilo. Era apenas uma sombra torta de uma imitação. Há uma diferença clara entre a imitação e a canalização.

"Evebody Wah', sua estréia, além da boa recepção da crítica musical, foi privilegiado pela produção do Diplo. Como aconteceu essa parceria? 

Bem, a Mad Decent é co-dirigida pelo Wes (Diplo) e o Jasper Goggins.  Então foi assim que aconteceu. O Diplo ouviu minhas demos e me deu alguns toques sobre a conclusão do álbum. Até tentei convencê-lo a ir comigo para um estúdio em Menphis, mas ele é um cara muito ocupado. Tivemos uma relação mais verbal que escrita, com relação à produção do disco. Queria muito tê-lo por mais tempo na realização do álbum, colocar seus beats nas canções, mas no fim das contas acabei finalizando o disco sozinho.

Que tipos de instrumentos e equipamentos musicais você costuma utilizar para produzir suas músicas?

Eu utilizo instrumentos básicos: guitarra, baixo, bateria, MPC, teclados. Acabei de me mudar pra Paris, então trouxe comigo apenas um laptop e duas guitarras. Isso é tudo o que eu tenho usado ultimamente.

Nos últimos anos, o advento da internet facilitou a procura de várias novas cenas, responsáveis pela atualização do mainstream musical. Eu sei de suas experiências no Brooklyn, um destes grandes nichos culturais. Hoje em dia, em sua opinião, quais são as cenas musicais mais relevantes?

Penso que Nova Iorque sempre será relevante neste aspecto. Apesar de pessoas como Patti Smith ( a artista é uma das representantes da cena punk novaiorquina, junto de grupos como Blondie, Suicide e Television) dizerem que os artistas deveriam se mudar para Detroit ou Austin e fugirem da cara pressão natural das grandes cidades, acho que essa pressão é benéfica para as artes.

Você já ouviu ou conhece alguma coisa da música brasileira?

Sim, eu amo música brasileira. A psicodelia brasileira dos anos 60 é inacreditável. Provavelmente a melhor. Atualmente, estou trabalhando com o Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê e Lovefoxxx do Cansei de Ser Sexy.

Como se dá o seu processo de composição?

Ultimamente, eu sento numa mesa vazia com o notebook e escrevo o que to ouvindo. Eu finalizarei toda a canção. Vou terminar a música inteira assim e então às vezes eu vou colocar algumas batidas para ela ou descobrir qual música seria mais adequada. Eu tento ignorar instrumentos e computadores, tanto quanto possível.

O que você tem ouvido ultimamente?

Tenho ouvido algumas faixas do AlGate’s Storm. Desde que cheguei a França, tenho ouvido as pessoas falarem de Jean Michel Jarre, então tenho ouvido ele um pouco também. Alguns dias atrás, estava ouvindo Stranglers e Teengenerate.

No que você tem trabalhado no momento? Alguma novidade para ser apresentada? Quais os seus planos para o futuro?

Agora,estou finalizando um álbum em Paris. Falta colocar algumas baterias nas minhas demos, então estou passando uma pequena temporada nos estúdios. Espero que o single deste álbum seja lançado no mês de abril, e logo em seguida o álbum inteiro. Eu também espero que essas faixas me levem ao Brasil.




Publicado no jornal O Estado do Maranhão, edição de 14 de abril de 2013.











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