Bosco Delrey é um dos artistas mais relevantes na cena
eletrônica contemporânea. O músico, que nasceu em Nova Jérsei e passou a sua
infância entre as grandes extensões dos milharais que cercavam sua casa, trouxe
no DNA sua inclinação criativa.
Sua paixão por música brotou cedo, mas sua ascensão só lhe
rendeu êxito quando Bosco despediu-se de casa para conhecer o que Nova Iorque
tinha de melhor a lhe oferecer: um cenário multiétnico, apinhado de gente
estranha, boas idéias e tribos diversas. Escolheu o Brooklyn como morada, e lá
conheceu suas galerias, bandas garajeiras, poetas e artistas que, assim como
ele, desenvolveram suas produções à parte das urgências do mercado.
No distrito novaiorquino, ele se aproximou de gente do
calibre de 77Klash,
Mad Professor e Jahdan
Blakkamoore, figurões das cenas de dub e dancehall. Mas foi através
do DJ e produtor Diplo ( conhecido entre os brasileiros pela sua massiva
divulgação internacional do funk carioca) que o cara chamou a atenção da imprensa
especializada.
Com uma mistura de rock sintetizado e um visual vintage, Bosco Delrey ganhou afeição do
público e foi parar na Mad Decent, selo californiano responsável pela
divulgação de artistas como Dillon Francis, Vato Ganzález e os brasileiros do
Bonde do Rolê. Lá, aprimorou sua estética, redefiniu suas diretrizes e lançou “Evebody
Wah”, um debut marcado pelo sincretismo
de rockabilly e música eletrônica, produzido pelo Diplo.
De lá pra cá, Bosco Delrey vem ganhando espaço na cena
musical alternativa, promovendo parcerias pontuais , ganhando notoriedade e
disseminando sua música pelos mais inóspitos cantos do mundo.
Nesta entrevista, Bosco Delrey fala sobre o início da carreira, suas
influências, música brasileira e adianta novidades sobre seu próximo disco.
Fale um pouco sobre o início de sua carreira musical.
77Klash, um músico de dancehall,
encontrou algumas canções minhas no myspace, e então nós começamos a trabalhar
numa faixa juntos. Na mesma época, ele enviou uma demo da Azaelia Banks, e eu o encorajei a trabalhar com ela,
também. Éramos uma pequena equipe. Daí, fiz uma faixa com a Banks para o Diplo,
o que fez com que nós fôssemos apresentados a ele. Eu diria que esse foi o
início de minha carreira musical.
Seu trabalho parece trazer
experiências do rockabilly para a música eletrônica, uma decisão não usual que
renova códigos tradicionais deste estilo, tal qual grupos como The Cramps, Heavy Trash e Speedball Baby
fizeram antes. Fale-me sobre suas influências musicais.
Não conheço o Speed Ball Baby, mas sempre adorei Jon Spencer
( idealizador do coletivo Heavy Trash e líder da banda Jon Spencer Blues
Explosion) e The Cramps. Acho que o que a maioria das pessoas me associaria minha
música ao rockabilly, mas eu prefiriria o rock ou o punk. Trata-se de várias
coisas, mas é muito mais um sentimento do que um som, entende? Recentemente,
assisti a uma banda de rockabilly que apresentou suas primeiras músicas com
grandes sorrisos na cara e todo aquele visual dos anos 50, e me se senti meio
desconfortável com aquilo. Era apenas uma sombra torta de uma imitação. Há uma
diferença clara entre a imitação e a canalização.
"Evebody Wah', sua
estréia, além da boa recepção da crítica musical, foi privilegiado pela
produção do Diplo. Como aconteceu essa parceria?
Bem, a Mad Decent é co-dirigida pelo Wes (Diplo) e o Jasper
Goggins. Então foi assim que aconteceu.
O Diplo ouviu minhas demos e me deu
alguns toques sobre a conclusão do álbum. Até tentei convencê-lo a ir comigo
para um estúdio em Menphis, mas ele é um cara muito ocupado. Tivemos uma
relação mais verbal que escrita, com relação à produção do disco. Queria muito
tê-lo por mais tempo na realização do álbum, colocar seus beats nas canções,
mas no fim das contas acabei finalizando o disco sozinho.
Que tipos de
instrumentos e equipamentos musicais você costuma utilizar para produzir suas
músicas?
Eu utilizo instrumentos básicos: guitarra, baixo, bateria,
MPC, teclados. Acabei de me mudar pra Paris, então trouxe comigo apenas um
laptop e duas guitarras. Isso é tudo o que eu tenho usado ultimamente.
Nos últimos anos, o
advento da internet facilitou a procura de várias novas cenas, responsáveis
pela atualização do mainstream musical. Eu sei de suas experiências no Brooklyn,
um destes grandes nichos culturais. Hoje em dia, em sua opinião, quais são as
cenas musicais mais relevantes?
Penso que Nova Iorque sempre será relevante neste aspecto.
Apesar de pessoas como Patti Smith ( a artista é uma das representantes da cena
punk novaiorquina, junto de grupos como Blondie, Suicide e Television) dizerem
que os artistas deveriam se mudar para Detroit ou Austin e fugirem da cara
pressão natural das grandes cidades, acho que essa pressão é benéfica para as
artes.
Você já ouviu ou
conhece alguma coisa da música brasileira?
Sim, eu amo música brasileira. A psicodelia brasileira dos
anos 60 é inacreditável. Provavelmente a melhor. Atualmente, estou trabalhando
com o Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê e Lovefoxxx do Cansei de Ser Sexy.
Como se dá o seu
processo de composição?
Ultimamente, eu sento numa mesa vazia com o notebook e
escrevo o que to ouvindo. Eu finalizarei toda a canção. Vou terminar a música
inteira assim e então às vezes eu vou colocar algumas batidas para ela ou
descobrir qual música seria mais adequada. Eu tento ignorar instrumentos e
computadores, tanto quanto possível.
O que você tem ouvido
ultimamente?
Tenho ouvido algumas faixas do AlGate’s Storm. Desde que
cheguei a França, tenho ouvido as pessoas falarem de Jean Michel Jarre, então
tenho ouvido ele um pouco também. Alguns dias atrás, estava ouvindo Stranglers
e Teengenerate.
No que você tem
trabalhado no momento? Alguma novidade para ser apresentada? Quais os seus
planos para o futuro?
Agora,estou finalizando um álbum em Paris. Falta colocar
algumas baterias nas minhas demos,
então estou passando uma pequena temporada nos estúdios. Espero que o single deste álbum seja lançado no mês
de abril, e logo em seguida o álbum inteiro. Eu também espero que essas faixas
me levem ao Brasil.
Publicado no jornal O Estado do Maranhão, edição de 14 de abril de 2013.