sábado, 17 de agosto de 2013

O Queer Rap

Nem manos, nem minas: são monas, as novas vozes do rap



O Hip Hop não mudou de cara: deu só uma maquiada. Por entre becos e esquinas do Brooklyn, ou estúdios de New Orleans, uma febre parece instalar-se entre as (aparentemente) inflexíveis bases que sustentam o rap.

Le1f - Um dos mais criativos representantes desta nova safra musical, a música do novaiorquino Leif dialoga com estéticas do Seapunk. Entusiasta de moda, é conhecido pelas letras cáusticas e performance sui generis no palco.


Nem manos, nem minas: são as monas as peças fundamentais que dão suporte à nova vanguarda do rap. Se antes as discussões em torno da vivência em guetos, discriminação e identidade eram atualizações de bandeiras levantadas por ícones como Aretha Franklin, Martin Luther King e grupos como Black Panthers, a temática do corpo, da soberania da liberdade sexual e das discussões sobre a diferença ganham espaço relevante no rap, lançando por terra o machismo, a homofobia e o binarismo comumente presente nos discursos de magnatas da black music, tais como Eminem e Fifty Cent.

Zebra Katz - Conhecido mundialmente após a vinculação de seu hit Ima Red na semana de moda de Paris ano passado, feita pelo designer Rick Owens, Zebra Katz levou sua musicalidade underground a territórios europeus, decisão que lhe rendeu grande projeção, além de publicações elogiosas de jornais como The Guardian, cujas colunas musicais são proféticas quando o assunto são "as apostas do ano".






Se, até então, as mais visíveis interações entre a cultura gay  hip hop apresentavam-se através de expressões de pouca criatividade ( o homo rap é uma delas) e declarações polêmicas de personagens como Frank Ocean ( que logo após ter seu grupo associado a incitações homofóbicas declarou ser um homem o grande amor de sua vida) o Queer Rap deseja muito mais, ao reivindicar a legítima influência da arte Camp, da iconografia New Wave e da estética do vídeo amador para afirmar que não somente " black is beautiful", mas "Queer is cool".

Big Freddia - Celebrado em públicações como Village Voice e The New York Times, este rapper transexual é um dos grandes representantes da bounce music, desdobramento do hip hop surgido em New Orleans.




Outros representantes



THEESatisfaction - Integrando influências do R&B ao rap, as garotas do THEESatisfaction são talvez as mais badaladas expressões do rap alternativo. Muito de sua popularidade está no fato do grupo pertencer ao selo Subpop, que, no passado, lançou ao estrelato bandas como Nirvana, Jesus and Mary Chain e hoje é a gravadora das paulistanas do CSS.

Mykki Blanco - performer, artista e poeta, Michael Quattlebaum Jr ( ou Mykki Blanco, para iniciados) faz um rap experimental, uma decisão pouco usual que chega às raias do bizarro. Suas influências precedem sua reputação artística: Anais Nin, Jean Cocteau, Vaginal Davis e movimentos como riot grrrl e o 
Queercore de Bruce Labruce.


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Texto publicado no jornal O Estado do Maranhão, edição de 17 de agosto de 2013